segunda-feira, 18 de abril de 2011

Da cadeia, criminoso gaúcho ordena morte de inimigos e conversa com a esposa

Dentro de um presídio no Rio Grande do Sul, o chefe de uma facção criminosa usava o celular como se estivesse em casa.

O Fantástico mostra um escândalo de segurança pública. Dentro de um presídio no Rio Grande do Sul, o chefe de uma facção criminosa usava o celular como se estivesse em casa. Pelo telefone ele conversava normalmente com a mulher em casa e ordenava a execução de inimigos. A reportagem é de Giovani Grizotti.
Por fora, a casa se parece com outra qualquer da periferia de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Na última sexta-feira (15), o Ministério Público e a Polícia Militar descobriram que, dentro dela, estão 50 cômodos.
O dono é Paulo Márcio Duarte da Silva, conhecido como Maradona. Na gravação de uma conversa que Maradona tem com a esposa, o assunto é decoração.
Maradona: Do lado da porta, ali, que entra, aquela lateral ali? Aquela lamparina ali, botar duas luz negras ali. Será que fica legal?
Leigh: Não, não ia ficar legal.
Maradona ligou para ela usando um celular dentro do Presídio de Alta Segurança de Charqueadas (PASC). Maradona está cumprindo penas por homicídio, roubo e receptação que, somadas, que chegam a cem anos de cadeia.
Uma das condenações foi pelo assassinato de uma menina de 4 anos de idade. Mesmo dentro da prisão, ele comandava uma das maiores facções criminosas do Sul do Brasil.
“Esta organização criminosa é estruturada através de lideranças, especialmente instaladas nas penitenciárias do estado do Rio Grande do Sul, e operam tráfico de drogas, homicídios e também tráfico de armas”, afirma Major Adriano Klafke, Brigada Militar – RS.
A conversa entre Maradona e a esposa é uma das 80 mil ligações feitas pela quadrilha do traficante. Todos os telefonemas dele são de dentro do presídio e foram gravados com a autorização da Justiça. Ele usava o celular para mandar matar os inimigos. “Nós identificamos que ele detinha dentro da penitenciaria por volta de 8 a 9 telefones”, afirma Amilcar Macedo, promotor de Justiça – RS.
Em uma ligação, Douglas Eduardo da Silva, o Café, braço direito do bandido, conta como atirou em um homem.
Café: Eu ‘tava sapecando’ o cara. Dei um do lado do ouvido, do lado do ouvido.
Maradona: Tá, mas tu conseguiu acertar ele?
Café: Acertei vários estouros, mas vai saber se ele morreu, meu.
A Polícia Militar chegou depois dos disparos e conseguiu prender Café enquanto ele ainda falava ao telefone.
Policiais: Levanta as mãos! Levanta as mãos! Levanta as mãos, fica paradinho!
A vítima sobreviveu. A mesma sorte não teve outro inimigo. Maradona achava que estava sendo traído pela mulher e mandou matar o suposto amante dela, Fabrício da Rosa. A vítima levou nove tiros e não morreu na hora.
Maradona mostra que seus contatos no submundo chegavam até ao hospital em que o homem estava internado. Ele fala com uma funcionária que é informante dele. Ela diz que o homem está para morrer.
Funcionária: Eles ficaram 15 minutos, hoje, tentando reviver ele.
Maradona: E conseguiram?
Funcionária: Conseguiram. Ah, mas não se sabe se vai passar. A médica disse pra família se preparar.
“É como ele estivesse solto, comandando as atividades criminosas lá no local onde elas estão ocorrendo”, aponta Amilcar Macedo, promotor de Justiça – RS.
Da cadeia, Maradona comandou até a construção de uma boate, inaugurada este ano. Segundo as investigações do Ministério Público, a casa noturna serviria para lavar o dinheiro do tráfico.
A ambição de Maradona parecia não ter fim. Ele chegou a pensar em lançar a mulher dele, Leigh Fiúza da Silva, candidata a vereadora em Nova Hamburgo nas eleições municipais do ano que vem.
Em uma ligação ele conversa com Márcio Vargas, o Ceguinho, informante da quadrilha que foi preso na última sexta-feira (15).
Maradona: A comadre, eu vou lançar ela. Ano que vem lançamos ela aí, entendeu? Imagina eu com o dinheiro de Novo Hamburgo, o caixa de Novo Hamburgo na mão, compadre?
Ceguinho: Deus o livre do céu.
O dinheiro que sustentava a quadrilha vinha principalmente do tráfico de drogas. Maradona comprava cocaína por telefone na cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O repórter do Fantástico Giovani Grizotti foi até lá e descobriu um território livre para o comércio de drogas. São camelôs que fazem o contato com os traficantes.
“Patrão, você quer falar. Vou ligar pra ele agora mesmo”, disse um camelô.
Em menos de dez minutos, o traficante chega num carro sem placa. A negociação é feita na rua. Na gíria local, a cocaína é chamada de "escama".
Repórter: Quanto que é a escama?
Traficante: A escama, mínimo, sai US$ 4 mil o quilo.
Repórter: Tu não tem gente que possa levar pra lá? Lá pra Porto Alegre?
Traficante: Posso conseguir pra você um cara que vai levar, mas tem que pagar o cara também.
Repórter: E quanto que tu acha que ele cobra?
Traficante: Tá uns quatro mil ‘real’.
Depois de três meses de investigação, 23 pessoas da quadrilha de Maradona foram presas. As drogas apreendidas estão avaliadas em mais de R$ 1,4 milhão. A superintendência dos serviços penitenciários do Rio Grande do Sul informou que já começou a instalar bloqueadores de celular na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC). Na sexta-feira (15), Maradona foi transferido para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná.

“Nos passa a impressão que o estado, como poder público, tem sido incompetente para proibir ou para coibir que estas pessoas façam de uma penitenciária de alta segurança, como é a PASC, façam um verdadeiro escritório de criminalidade”, declarou o promotor.
“Nós vamos restabelecer esta ordem, a disciplina e a organização da cadeia”, afirmou Airton Michels, secretario de Segurança – RS.
Fonte globo.com

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